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domingo, 28 de abril de 2013

Ensaio sobre a cegueira - José Saramago

  Esse é um dos meus livros prediletos do qual favoritei com cinco estrelas hehehe. Ele é incrível. Quando comecei a leitura, me perdi um pouco porque o autor estabelece uma estrutura de texto diferente do que estamos acostumados. Entre as falas dos personagens não há travessão, dois pontos e nem nada. As únicas pontuações que o autor utiliza é o ponto e a vírgula. É estranho a principio mas depois você se acostuma e a leitura se torna bem dinâmica, com ritmo eu diria. Não sei dizer se as outras obras do autor são assim porque esse foi o único título do autor que eu li por enquanto. Aqui vai um trechinho do livro pra se ter ideia mais ou menos do que estou falando: 

"A mulher não respondeu logo, olhava-o, por sua vez, como se o avaliasse, a pessoa que era, que de dinheiros bem se via que não estava provido o pobre moço, e por fim disse, Guarda-me na tua lembrança, nada mais, e Jesus, Não esquecerei a tua bondade, e depois, enchendo-se de ânimo, Nem te esquecerei a ti, Porquê, sorriu a mulher, Porque és bela, Não me conheceste no tempo da minha beleza, Conheço-te na beleza desta hora. O sorriso dela esmoreceu, extinguiu-se, Sabes quem sou, o que faço, de que vivo, Sei, Não tiveste mais que olhar para mim e ficaste a saber tudo, Não sei nada, Que sou prostituta, Isso sei, Que me deito com homens por dinheiro, Sim, Então é o que eu digo, sabes tudo de mim, Sei só isso"

  Saramago escreve dessa forma para tentar se aproximar o melhor possível da forma falada. Pois quando narramos uma história, não existe nada além de pausas de respiração, que foi o que ele fez com o ponto e a vírgula. O autor quer nos trazer uma obra onde possamos ouvir, assim como uma composição de uma música onde ela é marcada pelo tempo de respiração.

  Bem, vamos a obra...

  Ensaio sobre a cegueira é um livro cheio de metáforas e que pretende fazer com que a gente veja além dos nossos olhos, além do óbvio. É  o dever que temos diante da sociedade de enxergar quando há tantos que não enxergam. Saramago descreve de forma crua o que o ser humano pode se tornar diante de um caos. Há  alguns capítulos com uma linguagem um pouco pesada mas que tem a intenção de mostrar o ser como um animal agindo por instinto.
  O livro começa com um homem que está parado no sinal e de repente perde a visão. É uma cegueira branca, que pode ser associada a perca de valores da sociedade atual. Assim, sucessivamente algumas outras pessoas também começam a ficar cegas como se fosse uma epidemia. O governo decide colocar todas as pessoas que estão "doentes" em um hospício desativado da cidade até que se descubra a causa da cegueira. Como se isso fosse acontecer. É nesse ponto que as coisas ficam complicadas, pois eles começam a travar uma luta diária pela comida e pela sobrevivência. Dignidade não existe mais, e agora vale tudo pra se manter vivo. O interessante é que durante a narrativa também ficamos cegos, pois vamos descobrindo as coisas ao redor pelo sentidos dos personagens. 

  Os principais personagens são: o primeiro cego, a mulher do primeiro cego, o médico, a mulher do médico (a única que enxerga),  a rapariga dos óculos escuros, o velho da venda preta e o rapazinho estrábico. 

  É um daqueles livros que facilmente nos desligamos de tudo e passamos a vivenciar cada parte da história e o melhor, é que tem conteúdo. Tem um filme do Fernando Meirelles que é baseado nesse livro, ainda não assisti mas algumas pessoas me disseram que não é tão bacana. É que o livro tem mais detalhes e permite você conhecer a fundo cada personagem. Mesmo assim, acho que vale a pena , depois de ler o livro é claro. Então, fica a dica pra quem gosta de bons livros. Vou deixar aqui embaixo um dos meus trechos favoritos. 

"Ninguém fez perguntas, o médico só disse, se eu voltar a ter olhos, olharei verdadeiramente os olhos dos outros, como se estivesse a ver-lhes  alma, A alma, perguntou o velho da venda preta, Ou o espírito, o nome pouco importa, foi então que, surpreendentemente, se tivermos em conta que se trata de pessoa que não passou por estudos adiantados, a rapariga dos óculos escuros disse, Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.[...]"

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