Páginas

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Entrelinhas de Ana.

Era assim que sentia: lembranças de um tempo imaginário, saudades de coisas que nunca aconteceram e um sentimento um tanto quanto intenso [...] Angustia. Os bosques, o horizonte. Tudo ali, tão perto mais ao mesmo tempo tão longe.
            Mesmo após seus 25 anos de existência o que queria para si não tinha nome. Carregava dentro do seu peito todas as pessoas, os lugares e as paisagens por qual passou e sentiu. Era tanta coisa que mal cabia em si, transbordava pela alma e pelos olhos.
            Ah se pudesse correr sem os sapatos por ai a fora, correr sem as correntes que lhe aprisionavam... Correntes interiores. Ah se pudesse... Sentia que em suas mãos estavam todas as escolhas, faltava-lhe um pedaço. Não sabia por que nem onde. Somente sentia.
            Acordou cedo, o corpo ainda sonolento. O calor insuportável, mas a chuva que observava cair pelo telhado das casas amenizava a fadiga. Deu graças pela tal chuva.
            As gotas escorrendo pela face logo se misturaram com toda sua essência. Só não sabia até quando iria suportar, pois nos encontros e desencontros, crescia em seu ser a dilacerante ausência.Ela, a estranha veio com toda sua propulsão, rasgando-lhe os órgãos internos. Já não sabia nem mesmo como era, sentia como se houvesse dentro de si milhares de outros seres, outras personalidades. Como uma estranha poderia causar tamanha divergência?...
           Naquele dia tudo foi tão comum, como todos os outros dias. O trabalho, as pessoas, enfim, nada que pudesse distinguir o ontem de hoje, e talvez de amanhã. E ao chegar nessa conclusão, era como se acordasse subitamente de um sonho exaustivo e monótono. Uma realidade que não queria para si... A estranha agora então era reconhecida, era aquela tal que tantas vezes tentou se infiltrar em seus afazeres, em seu dia-a-dia. Só que dessa vez parece que veio mascarada. Mas de nada adiantou. Ana era uma mulher astuta. Logo tratou de concertar detalhes, de construir pontes...    

[...] Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já
conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento, o dinamismo, a energia.
Só o que está morto não muda!
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não vale a pena!!! 
                             (Clarice Lispector - Mudança)

E assim, o despertar trouxe consigo as mudanças, o novo.
Era como se sentia agora, mais viva, mais ativa... Era a menina com extensos horizontes,a menina mulher de sempre...

Um comentário: